Crônica: Amante das minhas contradições

Oi gente! 

Fiquei pensando em o que trazer hoje...então peguei a ideia da Loh, e escolhi uma das crônicas do livro "O Caminho das Flores", da escritora Tâmara Abdulhamid, uma das ultimas parcerias que fizemos. Eu simplesmente amo todas as crônicas desse livro (perfeito demais!), mas escolhi essa porque é muito minha cara.

AMANTE DAS MINHAS CONTRADIÇÕES. 
"Se há algo que você nunca entendeu foi a desordem dos meus sentimentos. O meu jeito de não caber em lugar nenhum, de ser dual e acreditar fortemente em cada uma das minhas facetas. Você sabe que eu sou com força, casada com minhas verdades e amante das minhas contradições.

Eu nasci bruta e vivo de sentimentos, nunca de aventuras. Minha alma de pássaro não sabe pousar em til - pois, logo eu teria de voar e não saberia me entregar de novo, com a mesma intensidade,a outro. O meu voo é sempre baixo. É só estender as mãos que logo estou.

    Vivo em um plano onde tudo parece demasiado importante e,ao mesmo tempo,bobo e efêmero. Tudo é tão intenso e tão infantil. Sou feliz e faminta no mesmo lugar. Carrol escreveu uma Alice em mim. Não tenho estatura definida,cresço e expando, enjoo facilmente de tudo e me interesso por tudo. Sou da fantasia, mas sou puramente lógica. Estou sempre querendo saber das coisas e tenho preguiça dos detalhes. Amo a loucura, e sou apaixonada pela sensatez. 

  Amo os intensos, odeio quem leva tudo a sério. Encho-me de mim e uso perfumes no meu pescoço longo. Eu amo na altura do meu sapato. Mas também me recolho, diminuta, se me entristeço. Desço rapidamente, me torno pequena, escondida atrás do meu abajur.

     Klimt pintou uma Adele de mim. A garota dourada, tão freudiana, tão humana, imitando essa inconstância do meu olhar sobre a vida. Meu colo liso e exposto que protege meu coração e tomba minha alma no chão. Quando as formas de tudo o que me compõe brigam por sua atenção. Quando um coque no alto da minha mente deixa à mostra a pele dourada reluzindo um metal que precisou ser posto ao fogo para brilhar. As vestes com formas pontudas, com lados de perfeita medida e razão, com bordas pouco flexíveis. 

   Fiz uma personagem de mim, que tem um relacionamento íntimo com os meus sentimentos. Que é amante deles. Uma figura que não sabe crescer do tamanho certo, que não cabe em si mesma. Personagem de tez serena que sustenta uma mente veloz, que calcula tudo, todos, exatamente agora. E que, quando chora, borra com tinta preta os cálculos e quando sorri, mancha os dentes de restos de amor. 

    Acho que lhe cabe. Talvez eu lhe caiba. E, tenha isto como aviso: aproveite-se dessa minha roda-gigante, que sempre tem novos começos e está sempre em diversas alturas. Para que embarque você. "

(Retirado do livro: "O Caminho das Flores" )

Espero que tenham gostado. Beijos da Ju ❤